quinta-feira, 20 de agosto de 2009

O Selo - Capítulo 1

Um reino é assolado por um mal, e um jovem cavaleiro parte para enfrentar o perigo. Sua jornada de volta será tão perigosa quanto a de ida? E que mudanças terão acontecido em seu amado reino durante sua ausência?




***************************************** Voltando pra Casa *********************************************



Há anos o reino de Korhal sofria.

Tinha sido um reino próspero em sua fundação e mais ainda quando uma imensa torre surgira no horizonte. A torre era a morada de um velho mago, muito poderoso, e ele iniciou um processo de trocas comerciais com o reino, fazendo ambos prosperarem. Foi assim por décadas e décadas.

Até que o rei percebeu que tinha confiado na pessoa errada.

Começou com desaparecimentos na Floresta Alta. Lenhadores começaram a não retornar para seus lares. Suas esposas recorreram ao rei, e os Filhos de Korhal, a guarda de elite, se prontificou a descobrir o que se passara.

Dez partiram. Espadas e escudos, armaduras e cavalos. Três voltaram com a notícia fúnebre. A mata estava agora infestada por criaturas mortas-vivas e bestas invocadas por magia. O mago que vivia na torre era um necromante.

Assim se iniciou o sítio aos muros de Korhal. Noite após noite os muros eram atacados. Cada cidadão era um soldado defendendo a cidade, e a guarda de elite se postava também nos muros, todos lutando como iguais, pelo mesmo ideal. Mas mesmo que as criaturas nunca tenham conseguido penetrar as defesas da cidade, haviam baixas. Soldados, aldeões e guardas davam suas vidas pela segurança de todos. E cada soldado morto era uma criatura a mais na armada invasora.

E matar aqueles que foram um dia seus amigos, amantes, colegas, mães, pais, irmãos, estava destruindo a alma do povo.

O desespero tomara as ruas, e o rei, em seu palácio, olhava para sua linda filha e temia que algo de ruim acontecesse com ela. Pois, apesar de rei, era também ele um preocupado e atencioso pai. E aquele homem imponente, em cada uma de suas noites mal dormidas, rezava pra que os deuses lhe mandasse um aviso, uma solução.

Foi por isso que, quando um jovem cavaleiro se apresentou no salão real e clamou para si a missão de viajar até a torre do mago, sozinho, e derrotá-lo, o rei deu graças aos céus e o enviou, trajando cota de malha e elmo, armado com espada e escudo, na companhia apenas de um cavalo branco.

Se o rei tivesse pensado mais, se não fosse ele mesmo, em segredo, também um cidadão tomado pelo desespero, se não fosse ele também um temeroso pai, talvez tivesse reunido uma guarda maior, com seus melhores soldados para ajudar o jovem cavaleiro. Assim, quem sabe, a missão teria uma chance maior de sucesso.

Mas o rei em nada disso pensou, e o jovem partiu.

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Deixara seu lar há três ou quatro semanas, não sabia ao certo. Cavalgava lento, se apoiando em Rhano, agarrando-se à consciência. Sua pele era morena, e seus cabelos curtos e negros. Sua cota de malha estava rasgada em vários pontos, os anéis metálicos imprestáveis. Usava uma libré branca por cima da cota, com o símbolo de seu reino às costas. O escudo e o elmo tinham se quebrado na torre, e o jovem tinha cortes pelo corpo, que doíam a cada trotar do cavalo. Sua espada pendia ao lado de seu corpo, ainda segura por um punho que, a despeito da enorme provação pela qual passara, mantinha-se firme.

Conseguia ver a cidade à sua frente, e calculou, por um momento, que cavalgaria ainda mais seis ou sete horas. Iria rever seu povo e lhes contar as boas novas. Lograra sucesso em sua missão. Fora difícil, e por vezes ele pensou que não conseguiria, mas um desejo em seu coração queimava, e, graças ao desejo, ele estava retornando. Sabia que teria pesadelos por semanas. As criaturas grotescas e crueldades que viu na torre ficariam gravados em sua mente, talvez pelo resto de sua vida. No alto da torre uma câmara, onde algo que um dia fora um homem estava sentado em um trono.

Alto, majestoso, frio, cruel. Um necromante.

Nada antes em sua vida lhe assustara mais que aquele encontro. O jovem usou todas suas forças na batalha e, ainda não sabia ao certo como, saíra vitorioso.

De todos os saques possíveis na torre do mago, o jovem cavaleiro tomou para si apenas duas coisas. Um escudo, para substituir o próprio, despedaçado em um embate contra uma quimera, e um elmo, pois o seu fora quebrado pelo próprio necromante. Seu rosto carregava também cortes onde os feitiços haviam lhe atingido. Não fosse seu elmo, teria sido decaptado.

Sabia que a torre deveria esconder muito mais riquezas, mas seu espírito estava cansado demais para ser ganancioso. Que o povo e os outros soldados se refestelassem em saques, seu trabalho já estava feito.

Não tinha derrotado todas as criaturas da torre, tendo escapado delas diversas vezes durante sua jornada. E agora voltava para casa, em fuga. Monstros cheios de ódio e vingança por seu mestre morto desejavam, obsessivamente, trazer morte àquele cavaleiro que ousara enfrentá-los. Rhano cavalgou como o vento, é verdade, e o jovem agradeceu aos deuses por cada trotar, cada corrida, cada passo a mais. Não lhe restavam forças para outro embate, ele pensava. Precisava chegar em casa. Precisava descansar.

Precisava vê-la.

Vendo a cidade à distância, o cavaleiro forçou a si mesmo e ao cavalo a seguirem adiante. Mais algumas horas, pensou. Mais algumas horas e estarei seguro. Mas a vida parece pregar peças com todos, e não foi diferente com aquele rapaz. Pois o reino de Korhal não sofreu apenas com as crias do mago, nesses últimos anos. As estradas há muito não eram patrulhadas. Todo o contingente de soldados do reino estava nas muralhas, de forma que diversas criaturas asquerosas e oportunistas atuavam nas estradas como salteadores.

E o jovem se viu presa de dois deles.


Goblinóides bárbaros. Criaturas repugnantes, dotadas de força muito maior que a de um ser humano, um faro potente e sede de sangue. O jovem acelerou o trote do cavalo, mas a passagem na qual se encontrava favorecia seus perseguidores, que correram pelas colinas abaixo, saltando sobre o cavaleiro.

- Não vão me matar sem luta! - bradou - Não sobrevivi à torre de um necromante para ser abatido por vocês!

Era uma boa bravata, e se ele estivesse descansado, sem ferimentos e com sua espada afiada, aqueles orcs seriam rechaçados com certa facilidade. Ele era, afinal, um cavaleiro treinado pelos melhores de Korhal.



Mas a situação não era ideal, e ele, à duras penas, aparou um golpe de machadinha com sua espada pesada, girou o cavalo em torno do próprio eixo, e atacou. Foi um corte certeiro no peito de seu perseguidor, que não mais viveria. No entanto, o giro o deixou de costas para o outro e isso lhe custou um corte de faca no flanco. Anéis da sua cota já avariada foram danificados, e ele sentiu seu sangue brotar.

Concentre-se, disse para si mesmo, tentando ignorar a dor.

Instigou Rhano para cima do selvagem, que foi obrigado a recuar para evitar o pesado cavalo de batalha. Esse recuro o fez se desequilibrar, e o jovem desferiu um golpe preciso em sua garganta, lavando o chão com o sangue negro.

Antes então que pudesse comemorar uma vitória, ouviu a canção da harpa da morte. Um arqueiro disparava flechas de cima do morro à sua esquerda, e o jovem ouviu o distinto tom que a corda do arco emite quando é solta depois de ser tensionada. Encolheu seu corpo na esperança de que as flechas não o atingissem, embora sequer as tivesse visto.

Aquele segundo pareceu uma eternidade, até que ele ouviu o barulho da seta atingindo o solo. Momentaneamente aliviado, ergueu seus olhos e divisou o alto do morro. Era estranho que um arqueiro bem posicionado errasse um alvo tão fácil quando um homem em um cavalo.

- Você está atrasado Khalembar, - disse uma voz doce e severa sobre o morro - e você bem sabe que eu odeio os seus atrasos.

E, pela primeira vez em dias, Khalembar sorriu. E, de repente, grande parte de suas dores deixou seu corpo. Lá estava ela, com sua espada em punho, trajando sua armadura. Um fio de sangue escorria pela lâmina e, no chão, aos seus pés, um arqueiro morto.



Nossa, como sentira saudade. Ela continuava linda, e sorria, carinhosa.

- E essa é a sexta vez que você salva minha vida, Michelle. Eu devo ser mesmo um cara de sorte. - sorriu - Ande, vamos voltar para o reino. Preciso descansar e tenho boas novas a contar para o rei.

O semblante da jovem adquiriu um tom tenso.



- Que bom que tem boas notícias Alex... porque passamos por uma hora sombria. O Selo foi quebrado.

E que os deuses nos ajudem, pensou Alexander Khalembar, pois ele se lembrava bem das histórias sobre a última vez em que o Selo fora quebrado.

Ele se lembrava bem de quando perdera seus pais.



Continua...

13 comentários:

Anônimo disse...

VC COMO SEMPRE, ESCREVENDO MUITO BEM.GOSTEI DA NARRATIVA, DO CENÁRIO APRESENTADO PARA A AÇÃO E DOS PERSONAGENS.
AMANHÃ EU VOLTO!!!

Yuuko San disse...

As historinhas continuam legais as ever!
Congratulations Sir R.D.X!
[]'s!

Mynssen disse...

Porra cara, mt bom mesmo.
História mt bem escrita, mas os desenhos tão sensacionais.
Inda vo aprender contigo.. ^^

Daniel Cavalcanti disse...

ótimos desenhos!
A Michelle me lembrou a Lust do fullmetal Alchemist!

Rodox disse...

@ Lory - SIM! Zumbis!! Corram para as montanhas!!
@ Mynssen - e eu tenho muito que aprender contigo! Obrigado pelos elogios XD
@ Daniel - Não tinha pensado na Lust quando desenhei Michelle... mas de repente a imagem realmente tenha sido "inspiração subconsciente" hhehehehehe
@ Todos - Obrigado pelo apoio! Vou me esforçar pra que essa série seja do agrado de vocês!

Até mais o/

GIL disse...

AÍÍÍÍ !!!! VOLTEI PROCURANDO O CAPÍTULO II !!!
ONDE ESTÁ????
BEIJOS

Rodox disse...

@ Gil - Só pra constar, os contos saem toda quinta-feira! Então aguarde! rsrsrsrs

Beijos

@ Todos - Sim, Gil é a minha mãe tá? Por isso mando beijinho, rsrsrsrs!

Marcus disse...

Boa meu garoto, mais uma história que promete...
Pelo jeito mais uma q terei prazer em acompanhar, sendo q dessa vez tem desenhos(o q na minha opinião será o ponto alto dessas histórias).
Aguardando pelos próximos...

Lisa ^^# disse...

*aplaudindo* Nuss Dol ficou irado, amei e viajei, hum, afinal bons contos tem a obrigação de fazer seus leitores a viajar a entrar na história e vc conseguiu a alem do mais os desenhos ficou otimo.*abraço de koala* beijos!!

Rodox disse...

@ Marcus - Obrigado meu garoto, que bom que gostou! Me esforçando aqui pra fazer sair no prazo e com qualidade!

@ Lisa - *sorrindo* êê, finalmente você comentou aqui, fiel leitora! Que bom que o conto fez você viajar por um mundo fantástico, pelo menos pelos minutos em que leu! Vou me esforçar pra dar meu melhor aqui!! Obrigadoooo!!!

Danielle Ohana disse...

Concordando e reiterando os comentários de todos!!
Parabéns mesmo! Você escreve muito bem! Com certeza esse será ótimo também! Keep up the good work, kupo!

Unknown disse...

Hahaha muito bom cara......cheinho de homenagens...Floresta Alta hãã???

Marcio Henrique disse...

Antes tarde do que nunca...
Muito boa a história e sem dúvida os desenhos são excelentes... Continue aprimorando tanto técnica quanto arte... Eu continuo acompanhando com grande prazer...