quarta-feira, 8 de julho de 2009

Por que Cair?

- Nossa... então foi assim que o senhor ficou sabendo da Academia da Federação? Que legal!
- Sim sim, foi dessa forma que decidi ir pra lá... fiquei sabendo que o método de seleção era extremamente rígido, mas mesmo assim, eu fui...
- Aposto que o senhor foi aprovado logo de cara!
- Bem...

E lá estava eu, e a capital do reino parecia me engolir em sua vastidão. Nunca havia estado em uma cidade tão grande, e cada ruela era mais povoada que um formigueiro remexido de saúvas. Mercadores nas ruas vendiam tudo, e podia ver ricos e pobres dividindo os becos. Havia miséria em cada esquina, mas o que realmente me chamava a atenção era a guarda real. Suas armaduras reluziam com o brilho do Sol, seus cavalos eram os mais bem tratados e suas armas davam a impressão de serem surreais, ou até, quem sabe, mágicas.

Caminhando ao lado de meu recém amigo bardo, consegui algumas informações sobre como me inscrever e sobre o processo de seleção anual para a Academia da Federação. Soube que o processo daquele ano seria dali cinco meses, de forma que comecei a procurar um lugar para treinar. E, com a ajuda do bardo, fui aceito no dojo do mestre Paul Hwang, um renomado treinador, conhecido por ter sido mestre de vários heróis de renome, antes que os mesmos fossem aprovados para a Academia.

E eu treinei. Nossa, treinei como um condenado à morte, cuja única salvação seria a aprovação. E, por todo aquele tempo, o treino e a seleção eram tudo em minha mente. Não fiz amigos, não conheci garotas, não me diverti. Havia apenas o suor, de manhã até a tarde, os ferimentos após cada treino, e o misto de satisfação e frustração após cada treino particularmente difícil.

Assim, o ano passou por mim como um pássaro que voa muito alto e não se consegue enxergar nada a não ser seus contornos. A seleção já era o presente.

Cinco mil candidatos reunidos em um gigantesco coliseu. Alguns dos mais conhecidos heróis do reino assistiam sentados em uma tribuna de honra. Estava nervoso. Meus joelhos tremiam, eu achava a armadura que haviam nos dado, simples camisões de couro rebitado, muito pesada. A espada de carvalho e o escudo de tília que nos deram pareciam estranhos ao toque. Eu não os sentia como a extensão de meus braços.

Mas era a minha grande chance e eu não iria desperdiçá-la. Os candidatos foram divididos em chaves com cem em cada. Os melhores de cada chave seriam os aprovados. Me preparei para o dia mais cansativo de minha vida. Entrei na grande arena, dividida em espaços menores, e me vi de frente para um cara que era um tanto maior que eu. Achei que fosse perder.

Venci.

As lutas continuaram durante todo o dia. A cada momento em que eu estava cansado pensava nos momentos de sofrimento e dor do treinamento, nos ferimentos, no sangue, no tempo gasto. Me mantinha de pé luta após luta. O suor escorria pelo meu rosto, e, por duas vezes, verti lágrimas durante um combate.

Assim, à duras penas, eu ia prosseguindo. A cada combate me aproximando mais do meu objetivo, e isso era o que me motivava. Queria a aprovação, queria ser herói, queria a glória. Lutei até meus punhos se cansarem, erguia a espada e o escudo, sempre me lembrando do sofrimento do treinamento. Cada adversário no chão era um passo para a grande vitória. Meu escudo estava lascado. A espada mostrava várias rachaduras, mas eu não me importava. Meu corpo estava coberto de hematomas, e por vezes cuspi sangue durante as lutas. Mas aquilo não era nada comparado ao meu treinamento.

Avancei e avancei, até a última batalha.

Lá estava eu, de frente para um adversário cujo rosto não importava. Eu era melhor. Tinha sangrado como um louco durante os treinos, abrira mão de todas as coisas divertidas e prazerosas da vida só para estar ali, naquele momento. Meu adversário não teria a menor chance, e, suado, com dores e um esgar de raiva no rosto, entrei em combate.

Fui derrotado.

Fiquei deitado no chão por um tempo que pareceu horas. Minhas costas tocando o chão duro, e meu suor e meu sangue escorrendo. As luzes se apagaram e os quinhentos aprovados deixaram o coliseu em furor, e eu ainda ouvia seus gritos de alegria e comemoração ao longe. Estava escuro e eu estava sozinho, e, por um tempo indeterminado, assim foi.

Até que ouvi música e passos, e o bardo se sentou ao meu lado. Eu chorava e ele sorria. Me irritei, gritei com ele, perguntei por que ele ria.

- Sorrio porque não tenho motivos para chorar meu amigo. Agora, me responda... seu treinamento, seus sacrifícios... valeram à pena?

Imergi em pensamentos. Chorava. Sentia raiva. Bardo maldito que sorria da minha desgraça. Como assim “valeu à pena”? Era óbvio que sim! Treinei, fiquei mais forte, jamais teria chegado na final se não tivesse sacrificado tudo por isso!

Como se lesse meus pensamentos, ele dedilhou seus acordes.

- Durante a luta você pensava nos seus sacrifícios? Pensava em todo o sofrimento do treino? Em como deixou de fazer amigos, se divertir, de conhecer garotas... tudo para vencer? Ah, amigo... como você poderia vencer, se tudo que carregava dentro de si era sofrimento, dor, mágoa, raiva...
Ele tinha razão.

Me levantei. No ano seguinte haveria outra seleção, e eu poderia desfrutar de alguns meses de férias antes de começar a treinar de novo. Mas dessa vez não faria do mesmo jeito. Não sabia ainda o jeito correto, mas tinha certeza de que iria descobrir.

Naquele dia aprendi a me levantar.


(Escrito ouvindo False Pretense – Red Jumpsuit Apparatus)

PS: Ufa! Três posts seguidos, e esse foi no prazo, rsrsrrsrs! Agora terei meu merecido final de semana de folga! Semana que vem tem mais Rolando os Dados e a continuação do Conto. ^^

Obrigado a todos que estão acompanhando. See Ya!

4 comentários:

Rodox disse...

Acho que ficou um pouco grandinho, rsrs... Mesmo assim, espero que gostem!

Até mais pra todos XD

OmniNosk disse...

A cada um... tá melhorando mais.
Até cara.

Yuuko San disse...

Pelo menos ele reconheceu...pior seria se cultivasse ódio pelo bardo e nao enxergasse a verdade (que nem sempre está la fora rs...ta aqui dentro!)
Matta nee!

Marcio Henrique disse...

História bem familiar...
Sem dúvida uma derrota é uma forma de nos fazer refletir e melhorar. Acredito que ele encontrará o jeito certo de treinar...
Abraço.