sábado, 4 de julho de 2009

O Esquecer e a Estrada

- Mas... esse Lorde Althair foi um grande herói... por que não o louvamos, por que não tem um feriado com o nome dele ou coisa assim?
- Os verdadeiros heróis às vezes são esquecidos criança... mas eles não se importam com isso. Abnegação é algo que cada herói de verdade carrega dentro de si.
- Sei... então... foi depois que esse senhor faleceu que...
- Sim. Foi após a morte de Lorde Althair que eu decidi finalmente deixar esse vilarejo para trás e viajar o mundo.

A vida nos joga de um lado ao outro sem aviso, e não foi diferente comigo. Deixei o vilarejo às minhas costas, e à frente, a estrada. Não sabia exatamente onde gostaria de ir... tinha ouvido tantas histórias e rumores que desejava ver de tudo um pouco. E o meu sonho de ser herói queimava muito mais forte em meu coração. Assim, caminhei sem rumo, apenas com uma mochila nas costas e um sonho no peito.

Nas primeiras noites que passei em viagem, acabei por me hospedar em uma estalagem de beira de estrada. “O Andarilho” era o nome do lugar. Mesas empoeiradas e copos sujos. Comida embolorada. Iluminação precária. Uma atendente que devia ter vivido umas cinco vidas a mais que eu.

E, no canto do salão, um bardo.

Era alto, esguio, e trajava vestes de cor negra. Vestia uma capa esfarrapada vermelha por cima de suas roupas, e tocava o bandolim mais bonito que eu já havia visto. E a música que ele extraía das cordas era maravilhosa. Parecia que vinha de dentro do meu peito, e não de fora, entrando pelos ouvidos. Achei engraçado ele usar vários brincos em suas orelhas pontudas. Devia ser um elfo, ou meio elfo. Mais adiante eu viria a conhecê-lo bem, e ele me contaria sua história. Naquela noite era apenas um bardo.

E eu estava ali sentado. Olhava pela janela enquanto ouvia a música fluir. Estava estrelado ou nublado, não importa, e minha mente viajava em cada sentimento que eu já havia sentido. Saudade dos amigos, gostar de uma garota, medo da morte, a vibração da vitória. Não notei quando a música acabou e fui desperto de meu transe quando o bardo se sentou ao meu lado. Ele tinha estranhos olhos vermelhos por baixo de seus bastos cabelos negros. Ele me olhou e deu um sorriso triste, estranho.

- Pra onde vai, rapaz?
- Ainda não tenho rumo definido – gaguejei, ainda sobre efeito da sombra de todas aquelas emoções.
- Um andarilho vagabundo então? – sorriu – E o que espera da estrada?

Fiquei pensando em uma resposta alguns segundos. Ou minutos.

- Tenho um sonho. Vou seguir a estrada que precisar pra chegar nele – olhei em seus estranhos olhos – Quero ser um herói.

Ouvi então a gargalhada mais estranha da minha vida. Ainda a ouço antes de dormir ou no meio da madrugada, quando acordo, suado. O bardo começou então a me contar uma história, e era mais ou menos assim:

“Muitos anos atrás, quando viajava em um navio sem nome, o rei Letho chegou à uma ilha. Ele vinha sendo perseguido por diversos navios pirata e não tinha mais munição para os canhões. As velas de sua embarcação já estavam rotas, e seus homens sentiam fome e sede. A esperança os havia abandonado.

Mas, dentre todos os tripulantes, apenas um se mantinha altivo e positivo. Apenas um homem acreditava na vitória. Esse soldado foi o primeiro a pisar na ilha e tomou à frente quando a comitiva do rei, exausta, precisou explorar mais à fundo, em busca de comida, água e abrigo.

O soldado então, sempre em frente, atingiu uma clareira entre as gigantescas árvores que lá haviam. E, no centro do clareira havia uma gigantesca cabeça de pedra. Da altura de três homens, a cabeça era ornada por um belo elmo de batalha e seu rosto era o de uma mulher.

Era a cabeça da deusa da guerra, conhecimento e sabedoria.

Os homens do rei acamparam nos arredores da estátua e lá conseguiram comida e água. O soldado, por três vezes, rezou em nome da deusa, agradecendo. Os homens se dividiram em duplas e formaram turnos de guarda, pois sabiam que os piratas podiam tê-los seguido. E, na madrugada, eles foram atacados.

Vinte e oito piratas, todos armados com sabres e adagas. O cheiro de maresia impregnado em suas peles curtidas pelo sol inclemente. Fediam a rum e gritavam horrores. E metade dos homens do rei estava morta antes de se livrar da sonolência que os espíritos das madrugadas nos trazem. A esperança os abandonara novamente, e, nesse momento, até Letho esmoreceu.

Mas aquele soldado ainda acreditava na vitória. E ele lutou. Lutou como um deus guerreiro. Lutou como um poeta. Lutou como só alguém que não duvida da vitória pode lutar.

O soldado tombou. E com ele tombaram vinte piratas. Os outros homens do rei conseguiram vencer e afugentar os piratas restantes, e a madrugada finalmente se extinguiu, dando lugar à pálida luz da manhã.

E dos olhos da estátua vertiam lágrimas.

Ali, nos anos que se seguiram, Letho ergueu uma escola. Não uma escola qualquer, mas uma grande academia para aqueles que desejavam se tornar algo digno de ser lembrado. A Academia da Federação, como ficou conhecida. Apenas quinhentos entre os mais de cinco mil candidatos são aceitos a cada ano, e dali saíram alguns dos maiores heróis do reino. O nome do soldado foi esquecido, mas não seus feitos. E, nesse ano em que estamos, a Academia completa duzentos anos.”

E assim, terminada a história, eu já sabia pra onde devia ir. A estrada havia se desenhado na minha frente e eu sorri.

E, quando parti, havia ganhado um amigo e um companheiro na estrada. Pois os bardos caminham por aqui e ali, sequiosos por presenciar grandes histórias que possam ser contadas. Aquele bardo resolvera seguir seu caminho comigo, e, mais tarde, vim a saber que alguma coisa em meus olhos o fez esperar grandes histórias em meu caminho.

E posso lhe dizer, meu caro, aquele bardo não se arrependeu.
EDIT: (Escrito ouvindo Goldfinger - 99 Red Baloons)

8 comentários:

Rodox disse...

Opa, aí está, e no prazo. Espero que gostem, porque minha cabeça anda lotada com as provas e esse acabou ficando meio grandinho, rs.

Gomen a todos e até mais!

Yuuko San disse...

..Ummm...isso ta ficando cada dia mais interessante de acompanhar...
Parabéns hein?? ^.^

Rafa disse...

Caraca, pior que eu te entendo...
eu também produzo mais quando tenho mais coisas importantes pra fazer...
quando tou à toa, normalmente eu fico à toa, quando poderia estar produzinho...
como você não deve saber o que é ficar à toa desde alguns anos atrás, acredite nas minhas palavras XD
Manda ver, cara!
Keep improving!

Rodox disse...

@ Lory e @ Yuuko San - Obrigado ^^
@ Rafero - Valeu velhinho, acredito nas suas palavras sim XD

Até o/

Danielle Ohana disse...

Caraca, foda! xD

(comentário nada a ver, mas sempre que leio "Althair" visualizo o de Assassin's Creed ¬¬)

Rodox disse...

@Danijija - Ah, digamos que seja uma homenagem à um perronagem que eu acho muito estiloso XD

o/

Marcus disse...

Ta ficando legal de acompanhar essa história...

Marcio Henrique disse...

Criou-se um suspense... O que será que acontecerá com esse aspirante a herói???
Continue escrevendo que continuarei acompanhando...
Abraço.