quinta-feira, 23 de julho de 2009

Escuridão e Alvorecer

- Nossa... que irado... então o senhor foi aprovado nesse ano? Se tornou um S1... que maneiro... e como é que foi?
- Sabe criança... foi mais do que eu poderia imaginar, e menos do que eu esperava...
- Hein? Como assim?
- Uma vez me disseram que sempre é mais escuro antes do amanhecer... naqueles dias eu descobri a verdade nessas palavras...

Os dias na academia começaram de forma duvidosa, pelo menos pra mim. Esperava que os veteranos fossem pessoas de alto moral, de valores bem definidos e que já tivessem dado grandes passos na longa jornada até o heroísmo. Me enganara. Orgulho, vaidade e egocentrismo pareciam ser a regra daquele lugar. Pouco faziam para ajudar os outros, e tramavam brincadeiras ofensivas, que pareciam sempre poder acabar mal.

Em uma dessas, as quais eles chamavam “exercícios de iniciação”, nós calouros, ou S1, precisávamos atravessar um campo que terminava em um rio, e a única travessia em seco era uma ponte estreita. Os veteranos se agruparam na ponte, aguardando os calouros para algum divertimento humilhante. Logo que essa besteira começou, decidi que não passaria pela ponte. Junto com mais alguns calouros, caminhei por trás da ala hospitalar, chegando ao rio sem ser visto pelos veteranos. Para vadear o rio era necessário descer uma pequena ravina. Durante a descida uma menina por pouco não perdeu o equilíbrio, e eu segurei sua mão.

Curioso como a roda do destino funciona.

Vadeamos todos o rio, e não fomos perturbados pelos veteranos nesse dia. Nas semanas que se seguiram, éramos alvo de todos os tipos de travessuras sem sentido, e, aos poucos, fui aprendendo a detestar o lugar. Vários S1 já se reuniam em pequenos grupos, mas eu me relegava à solidão. E essa solidão ficou maior quando recebi uma carta de minha vila natal.

Meu tio adoecera.

Tinha várias falhas, mas era um ente querido. Não conseguia mais prestar muita atenção nas aulas, que a cada dia, para mim, se tornavam monótonas e sufocantes. Fugi. Fugi várias vezes retornando até minha vila natal para ver meu adoentado tio. Perdi diversas aulas nesse processo. Algumas vezes eu simplesmente ficava deitado na cama depois que o Sol nascia... ficava vendo as sombras mudarem de forma no quarto. E via o Sol se deitar. Odiava aquele lugar. Ficava me perguntando se era aquilo o sentido de tudo. Se aquilo era ser herói. Livros, teorias, exercícios sem sentido. Eu via as pessoas na rua que precisavam dos feitos que eu deveria estar aprendendo a realizar. Via os veteranos, que deviam ser um modelo, fazendo coisas idiotas com as habilidades que aprendiam. Via tudo isso e me decepcionava cada vez mais.

Sentia falta dos meus amigos. Não os via há tempos, e a solidão no meu coração parecia fazer cada vez mais apodrecer meu espírito. Treinava sem afinco e, em casa, meus livros empoeiravam. Mais uma vez fugi para ver meu tio. Se pudesse vê-lo, ao menos iria rir com suas piadas e histórias engraçadas. Ou talvez pudesse jogar algum dos jogos que ele gostava, e que passávamos, por vezes, algumas horas jogando. Faria minha semana melhor. Viajei durante pouco mais de duas horas até chegar em sua casa. E lá, como uma sombra que espreita, ou como o mensageiro que carrega notícias ruins, eu soube.

Meu tio falecera.

Saí dali e vaguei sem rumo. Caminhei por uma estrada escura e tortuosa. Sentia dor, muita dor. Meu coração pesava de tal forma que eu só queria sumir. Desaparecer. Os dias que se seguiram eram diferentes tons de cinza. Eu não conseguia rir com os outros. Não conseguia chorar. Não conseguia sentir. Era apenas escuro e vazio. Me consumia a cada dia, e pensei em abandonar tudo e ir para lugar nenhum.

Mas, como eu lhe disse, a roda do destino funciona de maneira curiosa.

Uma tarde, andando pelos níveis do subsolo da academia, indo para uma aula, eu vi luz. Conversamos um pouco. Apesar de tímida, ela me contava sobre as canções que gostava de ouvir, e eu reaprendi a sorrir. Ainda me aproximava dela devagar e, mais tarde ela me confessou, chegou a duvidar por vezes se eu me achava atraído por ela. Fomos escalados para preparar um trabalho e, na biblioteca, nossos olhares seguiam um ao outro. Lá toquei sua pele pela primeira vez e senti um fôlego quente encher o meu peito.

Os dias ali dentro se seguiram. E, a cada dia, aquela luz se fazia mais forte em minha vida. As coisas começavam a ter cor novamente. Eu sorria. Apresentamos o trabalho e não foi nada mal. Mas as provas se aproximavam e eu não me sentia nem um pouco preparado para elas. Comecei a me excluir novamente. O bardo, meu amigo, percebendo isso, sentou-se ao meu lado.

- Meu caro... o que há? Não achou então uma luz pra te guiar? Ou será que não é clara o suficiente?

Ele sorria enquanto falava comigo. Diabos, aquele cara sempre sorria.

- Sim... achei... você sabe que achei. Mas... tirando o fato de que não faço idéia de como vou dizer isso pra ela, ainda tem todas as provas, e eu vou me acabar nelas, e ela vai me achar um fracassado!

O bardo sorriu mais uma vez. E eu pensei em como havia se tornado difícil ficar com raiva dele. Ele me disse que para enfrentar os desafios eu precisaria de coragem. Muita. Porque aquele lugar não me ensinaria a ser um herói. Aquele lugar me ensinaria técnicas e habilidades. Usá-las como herói dependeria de mim. Bem... ele também me deu umas dicas de como eu poderia dizer o que importava pra quem importava. Sorri.

Nos dias seguintes eu lutei. Lutei com todas as minhas forças e, pro meu espanto, fui aprovado em todos os testes. Quase reprovado, é verdade, mas prometi a mim mesmo que não deixaria mais que aquilo acontecesse. Os S1, todos aprovados, se uniram para uma comemoração, um banquete. E, enquanto esperávamos o início da festividade, me aproximei dela. Tinha a pele branca como o alvorecer e eu não tinha visto mulher mais linda que ela em todos os meus pífios anos de vida. Asami era seu nome. E eu me aproximei e sussurrei em seu ouvido.

- Quanto tempo mais preciso esperar pra te beijar?

Naquele dia nos beijamos. Ela era a menina cuja mão eu tinha segurado para que ela não caísse. E, talvez ela nunca tenha notado, foi sua presença que me impediu de cair. Nossos caminhos até hoje não seguem mais separados, embora eu não saiba lhe dizer como a história termina.

Só sei lhe dizer que a amo. E, depois disso, se tornou muito mais fácil sorrir frente aos desafios.

(escrito ouvindo Iris – Goo Goo Dolls)

5 comentários:

Rodox disse...

Postado! Espero que gostem ^^

o/

Kikah disse...

post mt bom, como sempre, e melhor ainda foi a musica q tava sendo ouvida xD

Rafa disse...

@Lory Huahaha, também acho!!! Aposto que ele vai mudar, só por que nós falamos!

Lisa ^^# disse...

Nhan!!! que post lindo e delicioso de se ler!!!
*sorrindo* muito bom Dolzinho Kawai ^^#

Marcio Henrique disse...

Essa história é um pouco familiar...
Contiue escrevendo e continue lutando em busca da sua luz...
Quem sabe você reescreva essa história com um final mais determinado e feliz?
Abraço