quarta-feira, 22 de julho de 2009

Rolando os Dados

Olá senhoras e senhores roladores de dados! Hoje venho discutir mais uma dicotomia presente nas mesas de jogos: bondade ou maldade? Sacrificar-se para salvar a vila que será invadida por dragões ou caminhar sobre os corpos de camponeses indefesos apenas para chegar ao seu objetivo?

Somos de uma geração que aprendeu a idolatrar os vilões. Nos quadrinhos, os heróis que fazem mais sucesso são exatamente aqueles "não muito corretos", ou aqueles "tocados pelo mal". Não é à toa que o Wolverine é tão pupular.

Sério, em Star Wars, quem você gostaria de ser? O fazendeiro que ganha uma espada de luz e tenta vencer a opressão do império, ou um cara de capa preta e roupa irada, que controla uma estação espacial que destrói planetas?

Não preciso ser lá muito vidente pra saber o que a maioria vai responder.

Então, nas mesas de jogos, o que acontece quando os jogadores precisam escolher entre o bem e o mal?

Nas mesas que já joguei e jogo, lidei com os dois tipos de jogadores. Existem aqueles que realmente gostam dos personagens bons, e tem a galera que gosta mesmo dos vilões. Na hora de planejar a aventura, o mestre tem que ter esse tipo de coisa em mente. O que os jogadores preferem?

Afinal, é dever do mestre fornecer a aventura para os jogadores, e que essa se adéqüe às preferências dos mesmos. Assim os jogadores podem se divertir, o que é o intuito do jogo em si. Então, se seus jogadores querem ser bonzinhos, forneça vilões para que eles enfrentem. Se seus jogadores querem ser vilões, então faça-os ver que a justiça irá atrás deles, mas que eles, igualmente, podem ser bem-sucedidos no decorrer do jogo.
Acima de tudo, pergunte aos jogadores quais as motivações de seu vilão. Ser mau apenas por ser é bastante inverossímil.

Mas por que existe esse fascínio pelos personagens malignos?

Tentando explicar:

Os jogadores enxergam nos personagens malignos aquela chance de “descarregar”. Afinal, nada melhor do que sentir seu personagem poderoso, livre de convenções, livre da moral do dia a dia, totalmente livre pra chutar a velhinha na rua (e não ser condenado por isso, afinal, é só um jogo). Ora, nos filmes, bonzinho pacifista é normalmente taxado de homossexual, enquanto que os caras maus são os sinistros. Mulher do mau sempre é mais sexy. É fácil entender porque atrai os jogadores o lado negro da força. Que, aliás, sempre é mais poderoso que o lado do bem.

Ora, mas se é assim, porque tem tantos jogadores que gostam de jogar com personagens bondosos?

Tento explicar também.

O lado do bem fornece três coisas que o lado maligno não fornece.

A primeira é o desafio. Vencer as situações sem deixar moral de lado, tendo poderes limitados, se sacrificando em prol de outros é muito mais difícil no jogo. É um desafio muito maior, e muitos jogadores gostam disso.

A segunda é a sensação de “estar fazendo algo bom”. Tem jogador que gosta do lado bom apenas pelo “fazer o bem”. É a sensação de que, já que não se pode consertar tudo no mundo real, no RPG pode-se salvar o mundo sozinho.

A terceira, e a melhor, é a glória. Diabos, falem o que quiserem, mas, em se falando de conquistas, quem tira mais onda é sim o cara que derrotou o Império saindo do nada, tendo que resolver várias situações com inteligência, tendo até que às vezes se esconder e fugir pra lutar outro dia, do que o cara que tinha a estação espacial destruidora de mundos (tudo bem, fãs do Vader, eu sei como acaba a história de Star Wars, mas não é esse o ponto).

Agora minha visão puramente pessoal: Eu prefiro o bem que o mal. Gosto muito de ter um personagem que tem poderes limitados, que está em desvantagem e que tem uma motivação nobre para lutar. Joguei algumas aventuras com personagens malignos, e achei bastante sem-graça, porque, convenhamos, o que tem de desafiador em trair a confiança daquele cara que é mais poderoso que você para poder derrotá-lo? Sempre achei muito mais maneiro aquele desafio cara a cara, a tensão do fracasso, e, no fim, arrancar a vitória das garras da derrota. Fiquei feliz nas vezes onde personagens meus morreram para que inocentes fossem salvos, e não me esqueci de nenhum deles. O mal tem seu fascínio, mas, pra mim, jogar com o mal é jogar um jogo no modo fácil, no easy. É até legal, mas não impressiona tanto quanto dizer que você jogou no very hard e venceu.

E, pô... quando tudo o que separa seu lutador, seu amigo paladino e seu amigo arqueiro-elfo-alado-berserker da vitória contra a Hidra maligna de sete cabeças são três números “um” em três rolagens de dados de seis faces, a tensão é muito maior do que quando você é simplesmente mau e manda capangas pra fazer o seviço.

Na boa... quando caem aqueles três números “um” seguidos, e você levanta da cadeira gritando “crítico”, pula que nem um doido, ri, fica contente e tudo porque seu grupo era muito mais fraco que a Hidra e a derrotou ali, na moral, de frente, sem traições, sem esqueminhas, sem sacrificar os outros... a sensação é muito boa.

Sim galera, é só um jogo, mas é um jogo que diverte bastante.

Só deixando uma mensagem final: não existe jeito certo de jogar! Se você se diverte mais jogando com um vilão, vá em frente, jogue! O importante é que cada um se divirta na mesa!!

E, alguém mais atento pode me perguntar “mas como você faz quando é o mestre e tem que interpretar os vilões, tramar seus planos e tudo o mais?”

Eu torço pelos heróis.

Que vocês rolem bons dados.

o/

8 comentários:

Rodox disse...

Postado, no prazo, conseguindo finalmente colocar mais de uma foto! (sim, eu sou meio mongol, rsrsrsrs)

Ah galera, só pra reiterar, é minha visão pessoal! Que os fãs de vilões e personagens malignos me perdoem, ok??

Até. o/

Marcus disse...

Apoiado!!!
ser o salvador da pátria vindo do nada é sempre mais divertido!!!
post mt legal, mas tenho q confessar, nunca fui o malvado para dizer se é realmente tão mais "sem graça", mas mesmo assim ser o Heroi é sempre bom, afinal vc consegue histórias p conquistar as mulheres =P
Abraço...

Rafa disse...

Fazendeiro de roupa preta! Fazendeiro de roupa preta!
(Ou azul Metálica...)
Floreou, floreou, mas continua lá a mensagem, preferir o lado mal porque é mais fácil "arrancar cabeças a dentadas" depois da vida te chutar a bunda...
Quero ver fazer uma piada infame e sair de tudo isso sorrindo ;)

Danielle Ohana disse...

Eu também prefiro o lado do bem (se bem que apelar com o Akuma em SF IV é bom demais XD)

Mas sinceramente o único sentimento que eu tenho em relação ao Vader é pena... o pobre coitado é um cotoco com cabeça de almôndega, perdeu a mulher tentando salvá-la, só aparece pra apertar o pescoço dos subordinados e ficar com raiva quando destroem a Estrela da Morte ¬¬ Por isso digo: fazendeiro + sabre de luz = melhor parada que existe!!!!

Danielle Ohana disse...

Ótimo post, a propósito xD

Rodox disse...

@Danijija - ^^ obrigado! E sim, dá pena do Vader mesmo... é difícil essa vida de vilão.

Yuuko San disse...

Muito legal o texto (como vc disse, coincidentemente paralelo ao meu mesmoooo...)..
Eu nunca joguei RPG, mas gostaria de jogar com personagens pacíficos, do bem mesmo mas com um quê de mistério (tipo..será que ele tem poderes ocultos?? será que ele pode "evoluir"?? Não..não estou falando de pokemons ¬¬")...seria bastante interessante...
Mas o ser humano tem tendência a maldade...são raras as pessoas desprovidas de qualquer maldade...o que existe é a modelagem do comportamento ao longo dos anos...muitos guardam a maldade dentro de si...por menor que seja...mas guardam...ela é contida..e pode permanecer adormecida assim até o fim dos seus dias...nisso eu concordo em parte sobre o "descarregar" (eu chamaria de desmascarar sentimentos reais..rsss)..whatever whatever...opinião pessoal tb...
De qualquer forma, texto maneiro!!
ps: Me desculpe mas eu tive que rir muito da segunda imagem! Não teve como NÃO LEMBRAR daquele vídeo "Cade meu headphone?" e aquela musiquinha tosca veio instantaneamente à cabeça "1...2..3..4..Darth Vader é um vi** " kkkkkkkkkk

Rodox disse...

@ Lory - Obrigadoooo!!! rsrsrsrs!!!! A imagem do início eu achei muito legal mesmo! XD

@ Yuuko - Paralelismos acontecem!! XD Mas não acho que seja "tendência a maldade" e sim "capacidade para fazer tanto o bem quanto o mal".

O/